terça-feira, maio 23, 2006

"Mais finas ou assim está bom?"

O modo como encaramos o nosso trabalho vai ser sempre reflexo de como encaramos a nossa vida, considero que o trabalho é algo importante na minha vida, gosto e tenho prazer em me sentir útil, em saber fazer algo, em ter responsabilidade sobre algo. Não tenho uma escala que consiga avaliar a importância das coisas na minha vida, tenho prioridades é um facto, mas geralmente consigo me rodear somente do que gosto, tanto a nível profissional como pessoal. No entanto nem todas as pessoas pensam do mesmo modo, a mim custou-me 8 anos a encarar o meu trabalho da forma como encaro, tenho dias em que tenho imenso para fazer e mal tenho tempo para ver o relógio, outros são passados de forma mais calma e olho sempre em desespero para o malfadado relógio a espera que as horas passem, nestes dias saio mais cansada e com a certeza de que foi um inferno autêntico, eu gosto, por excelência de me sentir ocupada. Tenho uma amiga que não está a passar uma fase muito boa a nível profissional, não encara as coisas com a resignação que certos trabalhos exigem, não sente igualmente apoio a nível superior e sente que de algum modo a tratam como uma especie de escrava, sem direito a argumentação. Ouvi e vi as lágrimas nos olhos dela, compreendi de certa forma a frustração que a invade e que não a deixa ultrapassar esta situação, a minha forma de tentar ajudar as vezes supera a mera palavra amiga, então peguei em mim e fui vê-la ao serviço dela, lá estava ela, sentada, num silêncio ensurdecedor que eu achava que era impossivel de existir numa sala com 3 pessoas a trabalharem, ela estava a etiquetar arquivos e enquanto falavamos de coisas básicas da vida lá fui eu fazendo umas poucas etiquetas para a ajudar, é incrível o que uma pessoa não consegue fazer quando está contrariada, eu fazia as coisas de boa vontade, a mim entretinha-me, saiam bem feitas, era simples... ela por mais que tentasse não conseguia, sentia-lhe os nervos a flôr da pele, a vontade de simplesmente abandonar tudo aquilo e ir se sentar na relva a olhar para a paisagem da bela Lisboa, ou então , numa versão mais assustadora, partir aquilo tudo na cabeça do chefe. Existem dias em que simplesmente nada nos corre bem, e as vezes nem adianta tentar, simplesmente elas não acontecem. Não tenho audácia de julgar, não é correcto, eu tenho um trabalho diferente, com pessoas totalmente diferentes, e tenho a minha forma de empurrar as coisas, já me senti chateada, frustrada, incompreendida...eu já passei por isso e sei bem como é dificil estar a fazer algo que não gostamos, como é ser chefiada pela arrogância e pela má educação, as vezes falta-nos a maturidade das boas respostas nas alturas certas, mas como tudo na vida, é só uma questão de treino, porque se um dia não gostamos do que fazemos, mas temos de o fazer, acaba sempre por ser um aperfeiçoamento, porque é sistemático, se tu não o fazes, ninguém mais o faz e como te pagam para isso, adivinha lá quem é que se vai ter de chegar a frente?? Claro que somos nós, mesmo que contrariados, geralmente eu espero que passe a fase da total ignorância e má disposição para que depois quando já me sinto confiante poder dar as referidas respostas com a mais séria e fundamentada argumentação, ganho um novo poder. É fácil dizer "encara as coisas com calma", eu odeio que me digam "tem calma", se estou chateada deixem-me estar chateada, é um direito que me precede, ninguém nunca vai ter o poder de calçar os sapatos dos outros, o que eu sofro mais ninguem sofre e vice-versa, daí que evite frases que incluam a calma pelo meio. As vezes é mesmo a nossa furia que nos faz mover, é ela que nos faz tomar atitudes por nós proprios para tentarmos de alguma forma melhorar ou minorar o nosso proprio degredo.
Tornei-me resignada com o tempo, adapto o meu trabalho ao que tem de ser todos os dias, e nunca é igual, é sempre diferente, existem sempre coisas que gosto mais de fazer do que outras, mas eu não posso passar o meu tempo a desgastar-me em má vontade, o trabalho tem de aparecer feito...mas foi um teino complicado!
Gostava de ser Deus a dada altura, sou uma pessoa parcial, eu vou sempre torcer por aqueles que amo e estimo, vou sempre querer ajuda-los da melhor forma para que os veja felizes, mas as vezes, a melhor ajuda que podemos ter para com o que gostamos ou amamos é deixa-los ganhar forças por eles mesmos, têm de saber reagir! Não lhe digo a ela o que deve ou não deve fazer, se eu pudesse passava a tarde toda com ela a ajuda-la a fazer o trabalho chato que ela odeia, agora a mudança que ela quer na vida dela...só ela a pode operar, pois das aflições dela só ela sabe, o máximo que posso fazer é sentar-me ao seu lado e perguntar "Mais finas ou assim está bom?"

terça-feira, maio 16, 2006

O que está ao teu alcance?

Uma vez um grande escritor disse uma frase genial, " Como é patético, que o vosso coração, tão só anseie por aquilo que está fora do vosso alcance"... na altura em que li esta frase não a relacionei com nada na minha vida, não tinha ainda a maturidade suficiente para sequer saber o que era gostar mesmo de alguém. Mas hoje, depois de já ter vivido algumas coisas, penso nessa frase, olho para a minha melhor amiga e pergunto-lhe: "O que anseia o teu coração?", e ela tem os olhos doces e nunca me sabe dar a resposta, perde-se nas ideias dela e nunca me dá uma resposta que eu sinta que a satisfaça, fala de um amor que perdeu, que gostava de nunca o ter perdido, fala de um amor que têm por ela, que ela nunca pediu, nunca desejou, nunca procurou...
Desejamos e ansiamos pelo que está fora do nosso alcance, e se a partida sabemos que está fora do nosso alcance, não percebo então porque sobrepomos esse desejo a qualquer outro muito mais acessível, muito mais adequado talvez. Andamos cegos com as nossa próprias ideias, obcecados com coisas que não são as mais certas para nós, não é a nossa metade da laranja, mas mesmo assim insistimos e apostamos em roletas viciadas.
As vezes somos tão prontos a defender a nossa autonomía, argumentamos que só nós sabemos o que é melhor para nós, batemos com o punho na mesa e queremos a todo o custo que a nossa vontade prevaleça, podemos saber que no fundo só nos prejudicamos, que é malévolo e não trás consigo nada de novo, mas insistimos a mesma...quando algo é certo para nós, não existem argumentos de defesa, pois tal nunca é necessário, não existe defesa possível para algo que só por si se prova, não batemos com os punhos na mesa, nem tão pouco quem nos ama tenta nos salvaguardar do que é o melhor para nós...
As vezes o que é dificil é abrir o coração, deixa-lo arejar como se fosse uma casa, deixa-lo respirar e ganhar vida, as vezes o que é mais dificil é não olhar para trás, pensar no que foi, no que poderia ter sido, vou sempre achar que é um erro olhar para trás, comparar, tentar de algum modo que as coisas sejam sempre iguais ao que eram em outras alturas...não olho para trás, o meu alcance é o céu e eu chego lá...
Creio que alcanço o que posso, alcanço o que pela qual eu luto, mas já não anseio mais pelo que estará sempre fora do meu alcance, não se deve sofrer por convicção, quero para a minha vida exactamente o que ela tem de ter, sem grandes expectativas, grandes crises, gosto das coisas simplificadas, e elas graças a Deus vêm sempre ao meu encontro, sem que para isso eu tenha de entrar em labirintos e perder-me neles. O desafio não é andarmos atrás de algo que sabemos que a partida nunca vai ser nosso, o desafio maior é conseguir dar valor ao que a vida nos oferece, e ver nesses mesmos momentos únicos a verdade e a beleza que não estão a vista, mas que lá residem...abrir essencialmente os olhos para o que existe mesmo de bom.
Aprender sempre a dar valor ao que se tem, ao amor garantido, as amizades fieis, a saúde porque é ténue, à nossa fé porque até ela se abala por vezes, saber dizer não às embarcações de sonhos que terminam com a espuma da praia, sem nunca terem atingido o seu destino...
Apostar sempre no cavalo certo, o nosso próprio cavalo!!