terça-feira, novembro 20, 2007

Estágio

Vou de novo para estágio...
Mais 3 semanas de um puro e não adulterado sofrimento em que serei escrava, pois ninguém me paga, e trabalho sempre horas a mais, é horrivel!
Este curso já me deu mais dúvidas e dores de cabeça que outra coisa qualquer, é como um casamento em que o gajo insiste em não te dar o divorcio e continua a dormir com a tua melhor amiga, uma situação em que nunca ganhas!
Estou farta de estudar, de me rodear com menores de 25 anos, estou farta desta treta toda da congruência e da empatia e mais do raio que os parta. Confesso que não vou com o meu melhor espirito para estágio, a dada altura nem sei o que eu vou para lá fazer, mas como tenho sempre de lutar contra mim mesma, que remedio tenho eu se não habituar-me a ideia de me levantar as 6 da manhã para fingir que sou enfermeira.
A única coisa boa em estar em estágio é que vou poder cuidar de alguém como eu acho que devem ser cuidados, vou poder conhecer outras histórias, outras dores e outros passados, vou lidar com tanto sofrimento que vocês não conseguem imaginar, por isso me custa muito esta minha "não tão boa disposição", eu não consigo ficar alegre a vêr pessoas a sofrerem. Dizem-me no curso que temos de lidar com isso, temos de saber respirar fundo e fazer o nosso trabalho, mas isso fica sempre feito, isso nunca se põe em questão se não seriamos maus profissionais, o problema é desligares o botão quando sais do hospital...
No estágio passado eu queria levar a minha doente para casa, queria que ela estivesse sempre comigo, custava-me muito deixa-la na cama do hospital sem ter ninguém para falar com ela, achava que aquele silêncio todo, era uma agonia para ela, quando chegava de manhã para lhe dar o pequeno almoço ela sorria tanto, e eu adorava essa alegria nela, fazia com eu quisesse voltar sempre. Peço somente um pouco mais de força, um pouco mais de alegria desta vez, para poder fechar os olhos a noite e conseguir dormir, tranquila...
Por isso, se já não andava a escrever nada, durante este tempo todo se calhar ainda vou escrever menos, se calhar não me vai apetecer falar sobre o que vou encontrar, não sei...é sempre uma surpresa terrivel, nunca sei se boa se má!
Mas depois volto, tenho de desejar o meu bom Natal de sempre.

Vallium e Panadol

E ela olhou para mim, se calhar a pensar que eu ia ser docil a falar, as vezes habituo as pessoas a isso e depois quando tenho de ser honesta, levam um susto terrível, falha minha, devia ser mais equilibrada.
Mas realmente depois de a ouvir, eu nunca poderia pensar que aquilo era normal, porque não era...
A questão é que ela "abraçou" uma espécie de relação na qual ela não sai a ganhar, nunca poderia ganhar, a minha mãe tem sempre razão e ela ia saber de antemão que essa relação era o que a gente chama na giria corrente de: merda!
Mandas mensagens e ele não responde, dizes que o amas e ele apenas diz que "até foi uma mensagem gira, daquelas que tive medo...", então tu deixas de sair com as tuas amigas, evitas os elogios de 300 homens bem mais giros e divertidos do que ele, enquanto ele sai e diverte-se e diz que só sai com os amigos, e tu quando ligas ouves vozes de mulheres no fundo a rir...então tu tens testes e ele nem te pergunta como correram...atende-te o telefone e parece que é um castigo quando o faz???? Desculpa??? Tens a tua auto-estima aonde? Não a tens, deves tê-la perdido algures na parte do "olá" e no "até um dia"...ninguém no seu perfeito juizo aceita uma relação assim, isso honestamente e por mais que te custe acreditar, isso é um valente e rotundo nada...
Demoramos tempo, muito mesmo a perceber o que temos de errado, e este tipo de atitudes são de facto o que temos de errado, arranjamos sempre desculpas para estas coisas, e até conseguimos manter esta "mentira" por algum tempo, até ao dia em que paras, e olhas para o lado, e apercebes-te como são as outras relações de pessoas tão mais simples, olha para os outros e vais vêr como o que tu tens não se enquadra com nada, apercebeste que ele não te valoriza, és só a pessoa dos tempos mortos, quando está aborrecido lembra-se de ti, um pouco como as amigas interesseiras, quando estás mal, ele limita-se sempre a minizar o que tu tens, ele sim, ele é uma vitima no mundo...blá blá blá...ele interrompe-te só para poder falar dele, a voz dele soa-lhe muito mais melodiosa.
Nunca és bonita, nem inteligente, nunca consegues nada, nunca lhe dizes nada...
Não acredito que tu, com tudo o que eu sei que tu és, consigas dizer nos meus olhos, que és feliz assim, não acredito nem um pouco que tu aches realmente que ele é o melhor para ti...
Pois como tua melhor amiga te digo...não é! Ele tem de se aperceber da sorte que ele teve em te encontrar, e não o faz, não se dá conta, ele tinha que sorrir para ti da mesma forma que eu te vejo sorrir para ele, a dada altura, é tão frio que mais valia abraçares um poste, provavelmente terias muito mais feed-back...
Ninguém mais tem o dom de me afectar, existem alturas em que dizemos "Amor? Puta que pariu o amor mais quem o inventou", apenas serve para te desviar de outros objectivos com muito mais fundamento, esqueçam um pouco essa coisa toda do amor e antes de amarem outra pessoa, amem um cão, ele sabe valorizar muito mais esse amor do que qualquer outra pessoa.
Tive uma evolução absurda nos ultimos tempos, como se fosse a visão suprema da vida perfeita, ao inicio era tanto amor que até enjoava, era só romance, era tudo tão profundo que só se fosse ao intestino é que eu conseguia explorar mais o meu lado emocional...e devo ter lá chegado, quando leio e volto a ler coisas que já escrevi, confesso, desisti de criar fantasias na minha cabeça.
As pessoas são o que são minha cara, e na maior parte das vezes são uma merda umas com as outras, apenas não querem saber, é mais fácil, toda a gente gosta do que é mais fácil, tá logo ali...só que chega uma parte em que o que fazem já te moi, já te deixa marca, já te afecta, no inicio é sempre mais fácil lidar mas uma coisa é certa, decepção atrás de decepção, e tu encaras sempre como se fosse a primeira vez, doi na mesma, nem mais nem menos, apenas doi.
O meu conselho, simples, é: bate com a porta, com convicção, se for realmente esse o teu desejo, se não for, devo então te recordar que deves te encher de Vallium, ou então Panadol, um dá para dormires e pensar que o mundo é perfeito, dá imenso jeito, o outro é analgésico, com o beneficio de não te dar dores de estômago.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Amizades Coloridas

Não gosto do termo "amigo colorido", faz-me lembrar a dada altura dos livros que me obrigavam a pintar quando era miuda e nunca consegui gostar daquilo, gostava mais de ler.
No entanto é algo tão natural como beber um copo de água, as pessoas cada vez mais adoptam este tipo de sistema e conseguem de facto conviver com o facto de serem "fuck buddies", sem compromissos, sem deveres ou direitos establecem uma relação entre elas que tudo o que importa é não se falar em sentimentos, porque não se fala do que não existe, e sexo...mas esse existe, e existe da forma mais descontraída possível, quando se quer.
Criticas e moralismos a parte, tenho sempre a noção que uma das partes se apaixona e apenas não fala, submete-se a uma situação egoista, em que sai sempre só um a ganhar, e aguenta, simplesmente suporta diariamente a sensação de existir na vida de outra pessoa só com um propósito, sem que este inclua juras de amor.
Chamem-me romântica, mas eu preciso que me chamem pelo meu primeiro nome, que me telefonem para saber se estou bem, que me acompanhem ao cinema, que tentem pelo menos, que disfarcem, ter interesse em algo mais na vida que arrancar-me a roupa interior com os dentes!
Pergunto-me por vezes, se perdemos a noção de sentir, não o prazer da carne, mas o prazer de gostar realmente de alguém, da pura presença de alguém? Estranhas convicções que foram abandonadas algures, sinto que vivemos com pessoas que nada sentem, completamente anestesiadas deste mundo, envergam um sorriso e uma data de frases feitas, usam-se uns aos outros por puro hedonismo, daquele mais básico, mais ordinário e vulgar, pior ainda é deixar-se levar pela corrente, como se fosse um estilo novo que se adoptasse.
Talvez, seja mais fácil não sentir nada, não sofrer, não se entregar a nada, desprendidos do mundo funcionamos em nosso favor apenas, não temos tempo para nos preocupar com ninguém, não procuramos que se preocupem conosco também, não cuidamos de uma simples flor, ou de um animal de estimação, a nossa existência gira tão somente em volta de nós. O pior é que um dia, inevitavelmente, iremos precisar de algo mais, de alguém, podemos não saber quando, nem quem, mas quando olharmos para trás, vêr o vazio de uma solidão imensa, vamos saber provavelmente, agarrados aos nossos livros e bengalas que poderiamos ter feito muito mais, ter sido muito mais, e nunca, nem por um segundo paramos, durante a nossa fase imberbe, para pensar como teria sido bonito, ter dado a mão a alguém que nos estendeu a dela.