Tenho assistido a diversas demonstrações de desespero, isto porque hoje em dia as pessoas sujeitam-se a tanta coisa só com medo de ficarem sós que se torna mesmo um desespero vêr o que sofrem, o que fazem, o que pensam...
Também tive momentos na minha vida em que me senti tão só e tão vazia que nada nem ninguém me conseguia tapar o buraco, nem familia, nem amigos, nem colegas...isto porque passava tanto tempo a ter pena de mim que não apreciava o que me rodeava. Fechei-me em copas e estava a ver que andava a concorrer para a "ostra" do ano. Não sei porque estas coisas acontecem, mas a dada altura olhamos em nosso redor e nada mais nos levanta a moral, é tudo uma tela a preto e branco, sem brilho, não adianta sair a noite, não adianta ter os amigos a puxar por nós, a familia a reclamar atenção, é uma depressão individualista, sem concessões.
Não sei bem, mas a dada altura eu abri-me para o mundo, comecei a olhar para o lado, a aperceber-me que no meio do meu egoismo existiam pessoas que me queriam de volta, não era pela beleza inconfundivel, pelo meu génio fantástico, mas porque era sempre eu que lhes dava a mão para as puxar para cima, precisavam de uma amiga. Não me esqueci dos meus problemas, aprendi foi a encara-los juntamente com os dos outros, com os que me davam valor, as vezes custa tanto pedir ajuda, que a cura só vem quando ajudamos os outros.
A esta altura da vida vejo que não tenho problemas, consigo lidar bem com os meus pequenos precalços, não sei se sou feliz, mas afinal de contas não existe felicidade plena, o ser humano é exigente por natureza e quer sempre mais, eu não sou excepção, eu quero sempre mais, se tenho um trabalho quero sempre ser reconhecida por aquilo que faço, quero subir, se entro para um curso, quero termina-lo com notas excelentes, se tenho amigos quero que estejam sempre comigo, se tenho namorado quero sempre que seja companheiro, que me leve a passear a beira mar, bem a noitinha quando o silêncio é quase ensurdecedor, quero que me segure a mão, que me roube os beijos que quiser... se tenho fé, quero vêr Deus, se saio a noite quero sempre dançar, se sonho com algo, quero que aconteça...passamos o tempo a pedir e a pedir, a lutar e a exigir...chega uma dada altura que as coisas não acontecem, por mais que a gente queira, o querer não é o suficiente, é preciso essencialmente viver, viver com o que se tem.
Tenho tudo o que preciso, tenho o meu curso, os meus pais são dois seres humanos fora de série, tenho dois irmãos que fazem de mim a princesa da vida deles, tenho amigos que chegam para abraçar a terra toda com um valente S no peito, com um coração genial de quem vai ser heroi na minha vida para todo o sempre, tenho saúde e boa disposição...tenho fé mesmo quando não vejo, falta-me o amor da minha vida, tenho gostado, tenho me apaixonado...mas nunca é a sensação divina de pertencer a alguém, de ser ali o meu porto seguro, a minha sombra, o meu Robin, sendo eu o Batman...quero alguém a quem eu possa olhar nos olhos e emocionar-me só com a sua presença. Ainda não chegou a minha hora, não sou menos feliz por isso, olho não para o que me falta mas para o que tenho, que embora não seja a mesma coisa tem uma valia diferente e também arranca de mim um sorriso sincero. Não vamos abdicar da nossa dignidade só pela ideia de uma felicidade fajuta e falsa, é como andar sobre ruas de vidro, nunca sabemos quando vão partir, nunca sabemos a direcção correcta pois é tudo incerto. Não devemos perder os nossos ideiais só porque a vida não é tão fácil como queremos que seja, para se encontrar um bom amigo a gente anda kilómetros, eu só preciso de olhar para o meu lado, ligar o telemóvel...mas sei ao menos que são reais, que é mesmo amizade destituída de todo o tipo de máscaras, para ter um amor verdadeiro não podemos estar a espera dele, não podemos ir a luta por ele, pois no amor não se luta, ele vive por si mesmo, para ter amor basta somente entrar no Metro num dia de chuva e pode ser que num rasgo de sorte se consiga ter por momentos a sensação fantástica do que é amar e ser amada. Viver em dúvidas, em crises só porque não queremos ficar sós não faz de nós grandes aventureiros, faz de nós cobardes, pois o verdadeiro nunca é posto em causa, é sempre simples, directo, não tem artifícios, isso seria viver mentiras na esperança de construir um castelo com baralhos de cartas, mais tarde ou mais cedo, eles acabam por tombar, e lá se vai o castelo!