Uma vez um grande escritor disse uma frase genial, " Como é patético, que o vosso coração, tão só anseie por aquilo que está fora do vosso alcance"... na altura em que li esta frase não a relacionei com nada na minha vida, não tinha ainda a maturidade suficiente para sequer saber o que era gostar mesmo de alguém. Mas hoje, depois de já ter vivido algumas coisas, penso nessa frase, olho para a minha melhor amiga e pergunto-lhe: "O que anseia o teu coração?", e ela tem os olhos doces e nunca me sabe dar a resposta, perde-se nas ideias dela e nunca me dá uma resposta que eu sinta que a satisfaça, fala de um amor que perdeu, que gostava de nunca o ter perdido, fala de um amor que têm por ela, que ela nunca pediu, nunca desejou, nunca procurou...
Desejamos e ansiamos pelo que está fora do nosso alcance, e se a partida sabemos que está fora do nosso alcance, não percebo então porque sobrepomos esse desejo a qualquer outro muito mais acessível, muito mais adequado talvez. Andamos cegos com as nossa próprias ideias, obcecados com coisas que não são as mais certas para nós, não é a nossa metade da laranja, mas mesmo assim insistimos e apostamos em roletas viciadas.
As vezes somos tão prontos a defender a nossa autonomía, argumentamos que só nós sabemos o que é melhor para nós, batemos com o punho na mesa e queremos a todo o custo que a nossa vontade prevaleça, podemos saber que no fundo só nos prejudicamos, que é malévolo e não trás consigo nada de novo, mas insistimos a mesma...quando algo é certo para nós, não existem argumentos de defesa, pois tal nunca é necessário, não existe defesa possível para algo que só por si se prova, não batemos com os punhos na mesa, nem tão pouco quem nos ama tenta nos salvaguardar do que é o melhor para nós...
As vezes o que é dificil é abrir o coração, deixa-lo arejar como se fosse uma casa, deixa-lo respirar e ganhar vida, as vezes o que é mais dificil é não olhar para trás, pensar no que foi, no que poderia ter sido, vou sempre achar que é um erro olhar para trás, comparar, tentar de algum modo que as coisas sejam sempre iguais ao que eram em outras alturas...não olho para trás, o meu alcance é o céu e eu chego lá...
Creio que alcanço o que posso, alcanço o que pela qual eu luto, mas já não anseio mais pelo que estará sempre fora do meu alcance, não se deve sofrer por convicção, quero para a minha vida exactamente o que ela tem de ter, sem grandes expectativas, grandes crises, gosto das coisas simplificadas, e elas graças a Deus vêm sempre ao meu encontro, sem que para isso eu tenha de entrar em labirintos e perder-me neles. O desafio não é andarmos atrás de algo que sabemos que a partida nunca vai ser nosso, o desafio maior é conseguir dar valor ao que a vida nos oferece, e ver nesses mesmos momentos únicos a verdade e a beleza que não estão a vista, mas que lá residem...abrir essencialmente os olhos para o que existe mesmo de bom.
Aprender sempre a dar valor ao que se tem, ao amor garantido, as amizades fieis, a saúde porque é ténue, à nossa fé porque até ela se abala por vezes, saber dizer não às embarcações de sonhos que terminam com a espuma da praia, sem nunca terem atingido o seu destino...
Apostar sempre no cavalo certo, o nosso próprio cavalo!!