Tenho 8 anos de serviço militar, os meus amigos quase todos, a excepção de uma amiga minha, foi cá que os conheci. A tropa pode não ser vista com bons olhos a muita gente, mas para mim foi uma benção em diversos aspectos, em relação então aos meus bons amigos foi simplesmente do melhor. Hoje lembrei-me deles por uma razão particular, é o meu aniversario militar, faz hoje precisamente 8 anos que pus pela primeira vez o pé dentro de uma unidade para fazer a minha recruta e lembrei-me de todos os que pertenceram ao meu pelotão, os meus fieis mecânicos, as minhas seis secretarias e um infeliz policia que para lá foi parar e morria de medo de agulhas. Fomos um grupo coeso, flexões era para todos, ninguém se ficava a rir, o nosso comandante de pelotão adormecia de pé agarrado a arma, escondiamos os cigarros no fuste das armas para podermos fumar as escondidas, perdemo-nos vezes sem conta na nossa prova de orientação...fomos no entanto os segundos a chegar e por isso mesmo foi tudo ao chão mais uma vez. Carregamos as armas uns dos outros e até os coxos arrastamos, partilhamos comida, e as noites passadas ao luar num frio de Outubro no meio do nada, nunca foram um acto individual. Este tipo de amizade nasce sem se desejar, podemos não nos entender em todas as situações mas tinhamos que nos aguentar uns aos outros, a minha tropa valeu a pena e foi uma prova superada graças a todos eles e por isso vou ter sempre uma gratidão enorme para com eles.
Conheci outras pessoas depois, com quem trabalhei, com quem lidei, não deixamos de ser uma classe na tropa, umas boas outras nem tanto, mas a representação delas na minha vida será sempre diferente em relação aos meus companheiros de pelotão, com eles partilho uma realidade oposta, em que nunca sou colocada a prova, em que o bem estar deles nunca vai depender das minhas atitudes e vice versa, são amizades que se desejam, que se mantêm, mudam ao longo dos tempos, melhoram, pioram, ora nos afastamos ora nos aproximamos, nunca será constante e sabemos sempre que mais dia menos dia vamos estar todos presentes no jantar de despedida de cada qual.
Vou amar a tropa até ao final dos meus dias, foi a melhor coisa que me aconteceu em muito tempo, foi o meu lar, a minha identidade, a minha personalidade, a minha alegria e também a minha tristeza, deu-me tudo o que possuo até hoje e todos os meus conhecimentos cá engrandeceram e tornaram-se muito mais aperfeiçoados. Existem dias em que nos fartamos de tudo e só queremos mandar isto ao ar e ter de volta a nossa suposta liberdade... mas eu cá fui e sou livre, não são as grades ou as redes que nos prendem, não são as ordens ou a hierarquia que nos remete a um canto, todos nós somos dotados de um sentido puro de autonomia, dai que nada nos prenda, nem nada nos rebaixe, é tão somente uma questão de interiorizar o nosso próprio valor.
Por isso, parabéns a mim, ao meu pelotão, a minha vida cá, a minha unidade...foram 8 anos em grande!