Tinha 21 anos, volto com 30, quase 10 anos têm um efeito na vida das pessoas que a dada altura se torna tão assustador como real. Pensamos muitas vezes que pouco mudou, mas então reencontramos os nossos amigos e sabemos logo que tudo mudou, que nós mudamos também. Nada no mundo é inalterável!
Encontrei-os rápido, eles lá foram surgindo como se a noticia de eu estar de volta fosse a peste negra e se espalhou por todo o lado, e de todo o lado os meus amigos de sempre vieram. Um por um, encontrei-os!
Gosto de os vêr nos fatinhos de engenheiros, com os filhos que lhes seguram as mãos, gosto de os vêr casados ainda com as namoradas do secundário, prova viva que existem coisas que são mesmo feitas para durar, gosto de conversar com eles por horas e, pensar e, rir das coisas que faziamos e pensavamos, do que seria mais importante para o futuro, do que realmente contaria para a nossa felicidade, das coisas que queriamos viver custasse o que custasse...
Sempre disse que voltava...
Cheirar as vinhas do Douro, sentir o calor que estala a terra e faz com que fique mais verde do que nunca, abraçar os meus pais, dormir na minha cama, ter posse segura finalmente do meu mundo e saber ou pelo menos desejar, por um segundo que seja, que estou onde pertenço estar, pelo menos por enquanto, pois uma alma irrequiéta, eternamente insatisfeita, não tem raizes nem fundações, vai com o vento, com as marés.
As coisas mudaram, as pessoas mudaram, mas permanece ainda aquele sorriso de traquinice que tinhamos, com os nossos 30 anos apreciamos o mesmo que apreciavamos a uns bons 15 anos atrás, podemos ter namorados, maridos e filhos, e trabalhos de uma imensa responsabilidade...mas no fundo, quando nos juntamos, somos ainda os putos da escola que fumavam as escondidas na casa de banho, mandavamos postais do dia dos namorados uns aos outros em segredo, jogavamos a bola e chateavamo-nos quando perdiamos, somos ainda os putos com medo dos exames nacionais, ainda os mesmo putos que mergulhavam no rio vestidos mal o sol aquecesse a água...eramos amigos, permanecemos amigos apesar do silêncio, da distância, da não presença na vida uns dos outros.
Quando voltamos a casa, voltamos não só ao espaço, mas a uma dimensão muito superior a nós próprios, voltamos ao passado por breves instantes e podemos parecer tolinhos quando sorrimos sozinhos, mas sabemos sempre porque o fazemos, porque os nossos amigos o fazem também.