Não gosto do termo "amigo colorido", faz-me lembrar a dada altura dos livros que me obrigavam a pintar quando era miuda e nunca consegui gostar daquilo, gostava mais de ler.
No entanto é algo tão natural como beber um copo de água, as pessoas cada vez mais adoptam este tipo de sistema e conseguem de facto conviver com o facto de serem "fuck buddies", sem compromissos, sem deveres ou direitos establecem uma relação entre elas que tudo o que importa é não se falar em sentimentos, porque não se fala do que não existe, e sexo...mas esse existe, e existe da forma mais descontraída possível, quando se quer.
Criticas e moralismos a parte, tenho sempre a noção que uma das partes se apaixona e apenas não fala, submete-se a uma situação egoista, em que sai sempre só um a ganhar, e aguenta, simplesmente suporta diariamente a sensação de existir na vida de outra pessoa só com um propósito, sem que este inclua juras de amor.
Chamem-me romântica, mas eu preciso que me chamem pelo meu primeiro nome, que me telefonem para saber se estou bem, que me acompanhem ao cinema, que tentem pelo menos, que disfarcem, ter interesse em algo mais na vida que arrancar-me a roupa interior com os dentes!
Pergunto-me por vezes, se perdemos a noção de sentir, não o prazer da carne, mas o prazer de gostar realmente de alguém, da pura presença de alguém? Estranhas convicções que foram abandonadas algures, sinto que vivemos com pessoas que nada sentem, completamente anestesiadas deste mundo, envergam um sorriso e uma data de frases feitas, usam-se uns aos outros por puro hedonismo, daquele mais básico, mais ordinário e vulgar, pior ainda é deixar-se levar pela corrente, como se fosse um estilo novo que se adoptasse.
Talvez, seja mais fácil não sentir nada, não sofrer, não se entregar a nada, desprendidos do mundo funcionamos em nosso favor apenas, não temos tempo para nos preocupar com ninguém, não procuramos que se preocupem conosco também, não cuidamos de uma simples flor, ou de um animal de estimação, a nossa existência gira tão somente em volta de nós. O pior é que um dia, inevitavelmente, iremos precisar de algo mais, de alguém, podemos não saber quando, nem quem, mas quando olharmos para trás, vêr o vazio de uma solidão imensa, vamos saber provavelmente, agarrados aos nossos livros e bengalas que poderiamos ter feito muito mais, ter sido muito mais, e nunca, nem por um segundo paramos, durante a nossa fase imberbe, para pensar como teria sido bonito, ter dado a mão a alguém que nos estendeu a dela.