A lutar contra todas as evidências, eu fui para estágio, termina agora, esta quinta feira.
Não fui com o melhor dos animos, o cansaço e o stress têm sido inimigos incríveis quando queremos lutar contra nós mesmos.
Correu melhor do que eu esperava, mas realmente como eu gostava de permanecer as vezes com a imagem surrealista que eu tenho da vida, da doença e da morte...
As coisas não são faceis, ninguém te diz que a aprendizagem tem de o ser, e muito menos imune de dúvidas e de medos, é geral, todos o têm, precisamos é de saber até que ponto nós conseguimos ir, onde andam os nossos verdadeiros limites se é que eles existem.
Aprendi muita parte técnica, muita forma de cuidar, de abordar diagnósticos...mas aprendi acima de tudo a, compreender a minha revolta, a minha angústia de saber que não vivo num mundo perfeito e bonito como eu sempre quis pensar. Já no estágio anterior achava que tinha presenciado a coisas dificeis, que tinha aprendido a lidar com doenças sérias, que sabia o que fazer, que possuíamos poderes para mudar algo, mudar o que achavamos errado.
O mundo deixou de ser cor de rosa, a partir do momento em que colocas um pé num hospital, enfrentas uma enfermaria, negra pelo tempo, vês os rostos cansados de uma noite dificil, ouves pelos corredores: "morreram mais duas esta noite", apercebes-te da falta de material, de quereres executar a tua tecnica com todo o floreado que vem descrito nolivro e simplesmente quando olhas para o rosto do teu doente, perguntas-te a ti mesmo, "por onde começo?", a teoria é tão boa e tão má aplicada, pois nnca sabes onde a encaixas a dada altura, sentes-te um tóto autêntico enquanto observas a destreza dos enfermeiros que já correm pelos corredores do serviço a anos, a dada atura, estás no estádio Sócrates, só sabes que nada sabes...
Aperceber-me que as pessoas abandonam a familia é algo que me custa muito, que o estado não tem tentáculos para chegar a todo lado, que existem aqueles bons enfermeiros que passam os anos que passam ainda têm coragem para colocar um perfume e um sorriso nos lábios e chegam as enfermarias como se fossem os raios de sol, eu gosto de as chamar anjos da guarda, a forma como se mexem, como interagem com aquele mundo tão triste e mesmo assim são ainda fieis aos seus ideiais e tentam, sim, porque elas eu sei que tentam, não é só aquele discurso eleitoral em que se promete de um pouco desde que se leve a água ao moinho, elas lutam todos os dias contra tudo o que d epior tem este mundo. Vi, ninguém me contou, pessoas tão idosas, com problemas que a meu vêr, demonstram um descuido de quem lhes promete um cuidar justo, desidratadas, com fome, sujas, sem visitas, com escaras do tamanho da tristeza delas, com gemidos de atenção e de dor, vi, pessoas que não verbalizam um discurso coerente, mas depois seguram o teu braço e a olhar para ti, naquele maximo de esforço te agradecem, e tu respiras fundo, para não chorar, sentes que fazes a diferença não pela terapeutica, não pelos cuidados...mas porque és a primeira pessoa que demonstra carinho e atenção enquanto o fazes, a isto chama-se gratidão, e nada neste mundo é tão humilde e simples como este gesto. Não choro, não porque seja forte, mas porque não me posso dar a esse luxo, não são dignas de pena, são sim dignas da melhor humanidade que lhes poder dar e se eu chorar vou estar a dizer que desisto e que me rendo a tudo o que eu considero mau, então eu vou sorrir, para poder dar esperança, para poder receber de volta a minha fé imensa em Deus pois ele bem tem tentado ajudar, mas se os Homens andam perdidos em outras coisas que numa cama de hospital pouco ou nada importam, como vão eles abrir os olhos para estas realidades?? Eles não as vêm, logo, para eles não existem!
Então eu vou esperar, e vou me formar com a graça de Deus e, quando o fizer, e sem promessas algumas, eu tenho porque sei que vou precisar disto para me sentir melhor e humana, vou ter de fazer algo pelas coisas que eu considero erradas, até agora posso me sentar num pedestal e posso julgar a vontade, não é a mim que me cobram acção, atitude, mas com o tempo eu vou deixar de estar do outro lado da vida e vou passar realmente a poder fazer parte dela, porque isto sim, isto é real, mais real do que qualquer outra coisa que eu tenha visto, e nessa altura, espero poder me recordar da forma como eu me sinto hoje, espero também ter a vontade de tentar pelo menos fazer com a que as coisas não tenham de ser sempre assim, sempre a lutar, sempre a gritar, quero poder dizer, com um tom de voz calmo, que são seres humanos e que o nosso melhor as vezes não chega, por isso limitaremos os nossos objectivos acima disso, para vêr se nós enfermeiros somos mesmo o "senhores da lâmpada" e se vocês médicos de hoje, são fieis ao vosso juramento!
Agradeço especialmente a minha professora, tem sido incansável...