segunda-feira, abril 07, 2008

E depois do Adeus...

Comecei a arrumar as coisas, tenho uma lentidão que me mortifica, a dada altura enervo-me! Quero me ir embora, sei mesmo que quero acabar o que comecei, quero uma vida nova, um novo começo, mas aos 30 anos, os novos começos são demasiado pesados para serem suportados.
Malas, caixas, guarda-fatos...livros em caixotinhos, caixotinhos com recordações disto e daquilo...
É como se a tua vida toda pudesse caber nestes pequenos recipientes que tens, lá ficam elas subdivididas em categorias e tu ficas simplesmente a olhar para um final, o teu final do lado de fora...sinto-me um fantasma!
Mudar a vida...e depois lembro-me da musica do outro fulano, o do banco..."apenas tenho que virar a minha de pernas para o ar..."
A porra é ter mesmo de a virar e não saber o que vem a seguir, antes sabia sempre, os meus dias eram tão iguais que até me perdia nos dias da semana e, porque me cansei disto, quis mais.
Digo adeus ao meu trabalho, nunca mais farei isto na vida, agora tenho outra função na sociedade, nada fácil, mas alguém tem de o fazer...ao menos ando de branco!!!
Vou ter saudades dos esquilos, das árvores que me rodeavam, das pessoas do meu dia a dia, do poder que tinha, porque a dada altura sentia-me com um poder nas mãos, sabia onde pertencia, qual o meu lugar, eu estava em control de tudo na minha vida, tudo organizado, tudo certinho e direitinho...Mary Poppins cá do sitio!
Estranha prepotência humana que nos faz pensar que estas coisas são eternas...nada é eterno, com o tempo aprendi que a amizade é eterna, o amor é eterno, as lembranças são eternas, e a morte. As outras coisas que temos na vida, coisas fisicas, coisas palpáveis, são tão efémeras como o primeiro beijo que damos na primária, nunca se apagam, mas acabam bem rápido.
Quero dizer as minhas amigas que sem elas eu não tinha superado nada do que superei, foram a minha força, a minha raiz á vida, foram minhas irmãs...e deixa-las aqui é um tormento para mim que acho que nunca vou conseguir explicar o quão mau é, não podermos levar quem amamos conosco, é quase como ir para a guerra com uma sentença de morte em cima...a agonia é igual.
O meu namorado foi mais que um pilar, foi simplesmente o meu nascer, eu descobri-me através dele e foi com ele que eu tive as melhores e as piores sensações nesta vida, se Deus quiser iremos conseguir partilhar isto tudo até ao final dos nossos dias pois é da nossa vontade que assim seja. Ele é ainda a razão pela qual eu quis ser mais e ter mais, ele é o meu objectivo na vida, pois quando estamos juntos nada nos afecta e conseguimos superar de um tudo, somos simplesmente o lado bom de cada um...ele é o meu melhor, sem duvida alguma o meu grande AMOR!
Os meus outros amigos...que poderei eu dizer...foram a minha familia, os irmãos, os pais, os anjos da guarda, não sei falar deles se não falar no amor que lhes tenho, pois é imenso e é eterno por mais distante que estejam de mim.
Recordar as minhas conversas, as minhas risadas, os meus sermões e discussões, as minhas angustias e os meus orgulhos...cantar o hino ainda me emociona, acho que vou me sentir sempre assim...
Da recruta...a 2 Cabo, a 1Cabo, a CAbo-Adjunto, a mais antiga da unidade e da especialidade, eu fui nestas fases todas a mesma menina de sempre, entrei feliz, fui feliz e saio ainda mais feliz!!
Com o passar dos tempos, temo apenas ficar na lembrança, vão falar de mim como eu falava dos outros da qual me despedi, lamentavelmente perdi um amigo, fui ao jantar dele de despedida e ao funeral dele, nunca o vou esquecer e vai ser sempre aquele exemplo que dou quando quero me sentir orgulhosa da minha classe e da minha especialidade. Se eu servir de exemplo para alguém espero apenas que tentem ao máximo, amar a instituição como eu sempre a amei apesar das contrariedades, saber estar e levar as coisas a bom porto, pensar que isto é uma fase da vida, não tem por hábito ser eterna, ela passa mais rápido que o que pensamos, e se pensarmos assim vamos agir em conformidade com o tempo que temos nas mãos.
Tive um grande jantar de despedida, acho que deu para tudo, ainda hoje estou para recuperar da festa que foi, é daquelas coisas que dizemos para nós mesmos "sai em grande" e é verdade, sai bem no alto, como se fosse uma estrelinha, acarinhada por todos que me eram queridos nessa noite eu curti a maior bubadeira de todos os tempos, senti algo que já não sentia a algum tempo...LIVRE!
Vivam bem, vivam em paz, encontrem sempre o que é melhor para vocês, se sentirem que não é isto não fiquem cá só porque era a opção mais segura, a organização merece muito mais do que uma cambada de inuteis, fiquem porque realmente querem fazer a diferença, viver uma vida de frustrações não deve ser o objectivo de ninguém, porque então ninguém sai a ganhar...existe muito mais lá fora, lutem por isso!!!
E como diz o titulo, "E depois do Adeus", eu respondo do outro lado da barricada, "sempre podemos dizer até breve"!!