Tempo não tem sido algo que eu possua nestes ultimos tempos. Gostava de me dedicar a minha escrita, as minhas ideias, não porque as adore mas porque quero-as fora de mim.
Perdi a noção do tempo que passou desde que sai da tropa, estudar desta forma, dedicar-me mesmo a única coisa que eu sempre quis fez com que a determinada altura eu estivesse num outro universo.
Chego ao quarto e nada me é familiar, não tenho a sensação de chegar a casa, penso num eventual jantar e nem vontade para pensar em comida tenho, apenas compreendo a necessidade porque uma das minhas tarefas é fazer com que se alimentem. A única voz que me tira disto é a do Pedro, ele é o meu outro mundo.
Estas pessoas não me dizem absolutamente nada, irão passar anos e nunca me vão ser nada na mesma, irritam-me imenso.
Tenho saudades de ouvir os meus chefes a rir e de fumar cigarros com eles, tenho saudades de chegar ao meu antigo quarto e ter como garantido um abraço daqueles que cura tudo, não sei mais das minhas amigas, elas estão tão longe...
Sentir-me só não é um estado de espirito, é um puro gesto de crescimento, tive que desligar do hábito de as ter ao pé de mim, de me preocupar com elas, só assim eu vou poder continuar a estar onde estou e a ser bem sucedida, o que te torna forte um dia também te torna fraco.
Aqui oiço ambulâncias o dia todo se cá estiver, se estou em estágio, quando saio da porta levo a morte de mão dada comigo, ela é daquelas certezas que eu sei que anda sempre a rondar, ao chegar ao serviço, sei bem onde a encontrar.
Este é o meu canto, aquilo que eu reservo para mim.
Não sinto dois dedos da minha mão a quase um mês, faço tudo na mesma, e fiz tudo o que devia da melhor forma, sofri muito no inicio, agora nem quero saber, logo resolvo, tudo tem o seu tempo de vida, se calhar um dia acordo e tenho os meus dedos de volta. Sofro por antecipação, sofro no momento e crio os meus próprios traumas, procurei ajuda de tanta forma...mas eu não me ajudo a mim mesma, eu sou a minha maior inimiga.
Amanhã é dia de avaliação, o ano está a terminar, faltam receber duas notas de dois trabalhos e quero pensar ardentemente que passei de ano, a dada altura senti-me brilhar, senti-me livre, tinha a minha cabeça tão presa e limitada a tanta regra patética, não imaginam como é bom deitar-me na cama e respirar fundo e sentir que estou onde Deus escolheu e onde eu sempre quis estar, esta é a minha perfeição, este foi o "filho" que eu criei em mim durante tanto tempo sem saber como faze-lo vingar, mas não sei como, provavelmente a custa de muito trabalho, muita sorte...ele ganhou vida própria!
Mais uns dias, apenas dois, e tudo vai ter uma dimensão muito mais leve...férias...