segunda-feira, junho 19, 2006

A minha outra visão

O meu mundo é um espaço cor de rosa, com nuvéns de algodão doce, póneis aos saltos, e coelhinhos brancos e felpudos...ou seja, eu sou do mais ingénuo que existe! Não considero isso um defeito, mas apenas um nitido problema de visão, o meu estigmatismo não me permite ir mais além.
Ontem fui passear, aliás, fui ver onde ficava um restaurante na Almirante Reis, depois passei pelo Técnico, Intendente...ou seja zonas turisticas!!! Então o que acontece é o seguinte, eu já sabia que existia prostituição, está certo que na Santa Terrinha elas andam escondidas, diga-se de passagem que a mulher Transmontana não tem problemas nenhuns em ser radical no que se trata da manutenção dos bons costumes, nadinha mesmo. De qualquer forma, eu já tinha tido a oportunidade as ver por Monsanto, na altura pensei que eram meninas que andavam perdidas pelo meio da mata com pouca roupa...depois esclareceram-me acerca do proposito da pouca roupa, até aqui tudo bem, elas tinham um ar cansado, desgastado, podia até dizer triste, muitas delas vitimas da toxicodependência, magras e escanzeladas...se calhar vi o motivo pela qual o faziam, podia não concordar muito bem, mas como pessoa instruida que sou sei bem a devassidão que a toxicodependência pode ter na vida das pessoas, consegue ser catastrófico. No entanto, ontem a minha visão foi diferente, muito mesmo, as meninas que por lá deambulavam, e não sei se por coincidência ou não, e de forma resumida, em 5 mulheres, apenas uma era branca e nitidamente com problemas de drogas, o resto deduz-se. Mas isso também não é novo, já sabiamos que Portugal começava a apresentar problemas a esse nível com as comunidades estrangeiras, mas até podiamos pensar que o faziam porque não conseguiam de alguma forma arranjar trabalho, mas depois lembro-me da quantidade de MacDonald's que existe por ai...case closed! Isto a mim, não me afecta nada, é uma realidade totalmente diferente da minha, não posso dizer que perturba o meu ciclo de vida porque seria ridiculo, eu sempre vivi longe destas coisas e vou permanecer assim. Mas experimentem então dar uma volta ali, para além daquelas meninas, outras surgem, estacionadas nos seus BMW, e Mercedes... não quero insultar ninguém, mas eram todas loiras, não eram mulheres descuidadas, eram mulheres, se é que posso chamar de mulheres sem estar a ofender a classe, de bom aspecto, com bons carros e sorriam e prostituiam-se a homens que não conheciam sabe-se lá porque quantia...como se fossem brinquedos de luxo deixam-se usar, perdem o respeito que deviam ter por elas mesmas, segundo dizem, algumas até são casadas e fazem-no pelo prazer de o fazer e com o consentimento dos maridos, que raio de relacionamento/casamento é esse? Onde anda o eficaz taco de basebol que faz falta em tanta casa portuguesa para voltar a pôr a ordem? Que raio de educação foi essa que os vossos pais vos deram? Que raio de pessoas são as que as procuram? Que nojo me mete esta humanidade frívola!
Pessoa alguma, algum dia me vai dizer que o faz porque não tem em casa, nem em lado algum, ainda se tornam mais vulgares que aquilo que são, e menosprezam a inteligência dos outros. Existem pessoas que têm uma vida muito humilde, conseguem perfeitamente viver sem o raio do BMW, conseguem passar a sua existência sem saber até quem é Armani, têm trabalhos, não empregos, todos os dias apanham transportes, até já foram assaltados, nunca foram passar férias fora do país, e Algarve será um dia depois de receberem o subsídio de ferias, existem pessoas que passam a sua existência sem terem ninguém na vida, desconhecem tudo em relação ao sexo mas sabem muito acerca de amor, que é totalmente diferente e, por se amarem a elas e aos outros nunca fariam uma coisa dessas nem que a vida dependesse disso. São pessoas que têm o dinheiro contado para o mês, nunca lhes foi aceite um crédito, nem sabem o que é o American Express e as maravilhas que o cartão faz. Aos Domingos ficam em casa, alguns amigos passam por lá, têm uma conversa animada e vão tomar um simples café a uma pastelaria na esquina. Existem pessoas que se formaram a custa de grande sacrificio, pagaram os seus estudos a fazerem limpezas em casa alheias, a recolherem o lixo da cidade, a serem jardineiras no município...prima, tu és uma grande mulher!
Somos sempre tão prontos a dizer que o Estado não nos facilita a vida, que os impostos são altos e que pouco trabalho existe, que temos azar, que os pais não ajudaram...blá blá blá blá...começo a pensar que muitas destas coisas, se não todas, são desculpas esfarrapadas para esconderem a leviandade e a falta de caracter de muita gente, começo a pensar que passaram a vida toda influênciadas por telenovelas, a viverem das aparências e do que não têm mas querem na mesma. Para isso vendem a dignidade, o caracter, a alma ao diabo...
Lembro-em sempre que quando eu for velhinha, eu não vou levar nada do que tenho aqui, são só objectos, roupas, coisas tão insignificantes comparadas com aquilo que eu sinto quando me olho ao espelho, ou quando me deito na minha cama sem peso algum na minha consciência. Nada é assim tão valioso como ter respeito por mim enquanto pessoa, saber que tudo o que eu consigo é sempre tirado a ferros, saber que tudo o que eu atinjo é fruto das minhas batalhas, e eu tenho travado tantas...e sei que não sou a única.
Chego então ao meu serviço hoje pela manhã, e tenho um maior respeito pelas senhoras da limpeza, tenho um maior respeito pelas pessoas que comigo trabalham, as coisas não são faceis para ninguém, ninguém consegue ter tudo, mas a diferença é feita através das pessoas que vão conseguindo realizar os seus pequenos sonhos sem que com isso se percam de si mesmas, ao invés de terem grandes sonhos cheios de atalhos nos quais perdem tudo da pior forma possível.
Essencialmente dar sempre graças ao que temos, aproveitar um dia de cada vez, ter lutas justas e dignas de serem lutas, ter objectivos firmes e concisos, sem grandes pretensões.
Será que as pessoas julgam que quando morrem levam tudo com elas como os Faraós? Estupida e ignobil ignorância humana que não vos permite ver além do que está a mostra! Agarrados ao futil e submissos a tendências patéticas que vos dita o modo como devem viver, ligam demasiado ao fácil, ao rápido...a vossa vida é uma cadeia de fast food...um corrimão, porque toda a gente vos passa a mão por cima!