Com 16 anos ansiava por sair a noite, era cá uma ideia fixa, que até de dia queria sair à noite!!!
Nestas idades parvas pensamos que sair a noite é do melhor que há, cabeça cheia de tolas fantasias e por essas mesmas eu, fazia coisas que, agora, que olho para trás, sei por definitivo, que merecia uns murros nos dentes!!!
Isto começa porque me contrariarem, homens, isto é regra de ouro, se querem ter sorte...seja no que for, não contrariem uma mulher, pois os nossos recursos são ilimitados, desde a makumba à Maia nós recorremos a tudo para levar a nossa avante!!
Eu não recorri a estes recursos, também não adiantava, a minha mãe é familiar do Hitler por isso...nem me daria ao trabalho! Mas, eu, quando contrariada tinha sempre uma carta na mão, pulava a janela!!! Estratégia com bastante eficácia dado que o meu quarto era no rés do chão, a minha mãe deitava-se cedo e com sono pesado, o meu pai idem, com acréscimo fantástico de que ressonava e, daí nunca terem ouvido nada, ficava o som abafado! Não me lembra de na altura ter pesos na consciência, bem, nem agora tenho, mas reconheço a minha irresponsabilidade, porque depois de saltar a janela, andava uns 100m e ia de mota, ou melhor, uma especie estranha de aspirador, para a cidade, sim, porque eu vivo a 5 euros de taxi da cidade, tá certo que passava mais tempo para lá chegar do que propriamente nos copos ou a dançar, iamos a 20 a hora...pudera! Mas a sensação de liberdade que sentia mal punha os pés no chão...era melhor do que 500 orgasmos seguidos! As pessoas nunca compreendem o valor da liberdade, porque é algo adquirido, mas quando falta, quando nos sentimos limitados nas nossas vontades, é como se a nossa vida interior morresse devagarinho.
Agora, aos 28 anos...com as portas todas abertas, com melhores sitios, ou seja sem azeitolas da santa terrinha, com maturidade para beber uma caipirinha, ficar grossa, mas manter a postura de alguém digno, ou seja, não vomito...agora, eu não saio!!!
Sou uma madre! Estou num convento! (Isto é a voz dos meus 16 anos a dar o ar de sua graça).
Nada disso, estou cansada, trabalho, é a velha máxima..."been there, donne that", pois já fui a imensos sitios, a dada altura diverti-me mais do que aquilo que a maioria se diverte numa vida inteira, fui menina de muita discoteca, de muito bom concerto, de muito bar, fui menina de chegar as 8 da manhã, tomar um banho e ir trabalhar, conheci imensa gente...só saio com amigos, nunca conhecidos, é a regra nº1 do bom divertimento! Mas sinto que o meu mar se acalmou, as coisas não têm o mesmo sabor, a aventura não é a mesma, já não sinto o frio estômago como sentia quando estava a voltar para a casa, só pensava "E se acordaram?", como era bom, voltar a subir para o quarto, sentir que ainda dormiam...uffa!!
Ai sim, valia a pena sair, os sitios eram feios, a musica uma merda, era mais azeite por metro quadrado do que óleo fula nas batatas...mas eu adorava, eu divertia-me...
Saudades...sim, algumas, gosto de aventura, arrependimento, não, nem podia, foram coisas tipicas da gente da minha idade, mas acima de tudo do que eu mais sinto saudades...era de chegar a casa inteira, saber que no dia a seguir, era de novo a menina de bem!!
Sacana, suprema, mas nunca a tempo inteiro!!