quarta-feira, dezembro 28, 2005

Ingénua...a verdade!

Acho que nunca vamos saber logo o que realmente somos, existem coisas que sabemos a partida, outras só aprendemos com o tempo.
Estava eu e o meu pai a ver um filme, “ Abaixo o Amor”, uma sátira engraçada sobre as relações que um casal tem, sobre o modo como o amor é vivido e a forma pela qual se luta por ele, a uma dada altura eu fiquei chocada porque o actor principal para atingir os seus objectivos mentiu a cerca de si mesmo…o meu pai com toda a sabedoria dele, olhou para mim, deu-me um beijo na testa e disse “A minha filha é tão ingénua…”
Sim, eu sou ingénua, sim eu acredito que as pessoas se podem relacionar sem ser preciso usar artifícios, máscaras ou outro método qualquer, absurdo, que só magoa depois, as outras pessoas. Sempre pensei que os homens não eram tão traiçoeiros sempre acreditei em príncipes encantados mesmo quando eu só tive um sapo, sempre tive fé na bondade das pessoas, na honestidade e na sinceridade, sempre pensei que uma “hidden agenda” não era uma forma generalizada de um homem ser…pelos vistos tenho de reformular a minha imagem de homem, tenho de abrir os meus olhos, eu ando a muito tempo cega com a ideia fixa do que eu procuro num homem e esqueço tudo o resto que o envolve.
Sou uma pessoa ingénua então, obcecada com as minhas próprias ideias, radical nas imagens que tenho das pessoas, e depois quando o pano cai, eu não consigo acreditar, eu não consigo ver além do que eu penso…eu não consigo ser assim, e sou tão teimosa, tão obstinada a pensar que tenho sempre razão que muitas vezes até tenho a verdade ali mesmo à minha frente e não a tomo como tal, é só uma sensação as vezes, um pressentimento e teimo em não querer ver.
Creio que o meu problema não será a minha ingenuidade, mas sim a minha nítida incapacidade de me aperceber e de assumir que errei nos meus julgamentos.
Não existem mais príncipes encantados, isso é um conceito ambíguo, e bizarro, as pessoas não vêm com a perfeição no seu encalço, as pessoas nunca são como imaginamos, o único que eu quis, o único que se adequaria a mim foi o único que nunca me viu, nunca me conheceu e nunca me amou, é o único que nunca existiu, fruto da minha imaginação imensurável que já não tem mais bases de sustentação.
Estas coisas não se apreendem logo, vão com o tempo, já me têm acusado de frieza, se calhar essa frieza ainda não chega para me proteger dos sapos desta vida, preciso de ser ainda mais, para que assim eu cresça, e possa conhecer então a verdadeira natureza das pessoas que me rodeiam.
É só mais um mau dia, mais uma decepção, mais uma vez que sou obrigada a baixar a cabeça, mais uma vez que enfrento o que mais temo, e tenho sempre tanto medo e tenho sempre de estar sozinha quando ergo os meus olhos e dou com a verdade de frente, é um acidente de carro, é ver a desgraça a chegar com uma velocidade alucinante e ter naquele ínfimo momento, a certeza segura que nada posso fazer…quando dou por ela, estou a um canto, e abraço-me, pois mais ninguém o faz, mais ninguém o vê, pois eu escondo tudo também, vou empurrando e afundado todas as minhas mágoas e tristezas até deixarem de existir, até ao dia em que volta a acontecer e aí a dor é sempre mais profunda, vem tudo ao de cima.
As vezes é preciso coragem não para nos levantarmos quando caímos ao chão, mas sim quando precisamos de começar a pensar em nos levantarmos, pois é sempre mais difícil levantar do que cair.
Tenho de aprender a me levantar com graciosidade…