Estou em Lisboa a 7 anos, gosto deste stress todo, desta urgência quase desmedida para ir a todo lado, está certo que odeio transito, tira-me mesmo do sério e, mesmo sem conduzir, mando vir mais do que os outros atrás do volante, mas esta cidade tem coisas que eu simplesmente adoro e que sei que por definitivo mudaram em muito a minha vida...amo o Colombo!!
A minha santa terrinha fica para lá nos arrebaldes de Trás os Montes, cada vez que vou a casa venho ainda mais stressada que aquilo que fui, são 5 horas de viagem super desgastante e isto tudo para chegar a um sitio que é um deserto. Transito não tem, a não ser as carroças dos bois a competirem umas com as outras a ver quem é que deixa o presente mais fumegante. A minha terra não diferente de todas as outras, temos festas em diversas ocasiões e peditórios todas as semanas para as mesmas festas, têm sempre a mania de colocar um altifalante num poste, encostado à casa mortuária, que dá o som directamente para a minha casa, e é sempre agradavel acordar ao som de Tony Carreira, o heroi lá da terrinha, á noite para além do Tony tenho que levar com o som fatástico da mota da moda - A Famel - vêm os trolhas todos da região para dançar com as domésticas solteiras que para lá andam e beberem vinho carrascão até terem o figado á porta e dançar com todos os outros figados que lá andam.
Os foguetes duram a noite toda e é um espectáculo triste, a dada altura não sei se andam aos tiros ou se é efeito de alguma comida mais pesada, resta a duvida, pois nem um brilhozito se vê, deve também ser da quantidade exagerada de charros que fumam o pessoal mais novo e farto daquela merda.
Como não sou mesmo da terra, ou seja cai lá de paraquedas porque o meu pai tava na sua versão de hippie e queria paz, a dada altura não percebia o que eles para lá diziam, a minha avó chama ás ameixas brancas "caranguejos", ou seja a dada altura lá ia eu a ver se tinha marisco para o jantar e no fim só alombei com 5 kg de ameixas para aprender a deixar de ser fina.
Por altura do Outono lá vai tudo andar de rodas dos pinheiros, de cu para o ar...a procura dos malfadados miscaros, se fossem a contar com os que eu apanhei tava tudo enfiado no hospital envenenado, toda a gente dizia que eram amarelos, mas eu achei mais piada aos vermelhos porque eram maiores...
Quando se vai tomar café toda a gente se conhece e eu como vou lá uma vez por ano tenho um reclame neon a dizer "Ná és de cá car...", sim porque todo o bom transmontano inclui sempre uma asneirola no discurso, é tipo um código para saberem quem é da terra e quem é de fora, eu sou tipicamente da terra.
As mulheres da terra são os Yetis (abominável homem/mulher das neves) portugueses, têm muito pêlo em determinados sitios, o fantástico bigode, a bela da perna sempre carregadinha e depois as mais velhotas fazem a depilação na lareira que é mais rápido e é sempre agradavel o cheiro do queimado, geralmente usam batas e as meias andam sempre dobradas, parecem jogadores da bola, são muito simpáticas e acessíveis em termos de dialogo, geralmente viram-te as costas e fazem um ar pronfundo de ofensa.
Lá na terra não se lê jornais, é mais falarem com o padre que ele basicamente sabe de tudo, quem dorme com quem, quem é bebado, quem trabalha bem, é um serviço utilitário. Dá sermões de olhos fechados e deve ser em latin pois ninguém percebe nada, mas é giro.
A princípio achava muito estranho estar muita gente com roupas escuras à frente da minha casa, pensava que era um barzito ou um café, mas depois estavam todos a chorar e as velhotas de lencinho berravam...casa de strip...naaaaa, era mesmo a casa mortuária, o que veio dar um novo animo lá a terra, eu pessoalmente acho que é um belo ponto de encontro, sempre falam de quem se seguirá e começam logo a tratar do assunto.
Quando se chateiam os vizinhos, ninguém sai de casa, a GNR qualquer dia tem por lá um posto, pois aquela gente tem mais armamento do que a Al-Qaeda, e não dão muito espaço para diplomacias, é mais do estilo " Andas com a minha mulher?", segundos depois PUM!! E pronto é assim que tudo se resolve, as vezes, tirando as vacas e o Tony, amigo do peito, penso que estou na Cova da Moura, mas depois olho e não há pessoas de cor...e os mais escuros é mesmo surro...por isso, volto para o lado e rezo para que o Domingo chegue rápido, a boleia não se atrase e quando chego a Lisboa, sou o Papa...até beijo o chão!
Por isso, quando quiserem ir lá a terra não se esqueçam, coletes a prova de bala, dicionário da asneirola, uma motinha Famel dá sempre um ar de importante e claro, a cassete dos melhores êxitos do Tony Carreira...ah! E já agora uma gilette ou bandas de cera se quiserem agarrar alguma menina lá da terra!